sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Uma lenda viva do Timbrado - Don Álvaro Guillén García


  Nasceu em Galange, a 6 de Junho de 1922, cidade da província de Badajoz, conta com 89 anos, foi para Madrid, onde se encontra actualmente  radicado.
 Começou a criar canários do País aos sete anos, nome que davam naquele tempo (1929) aos canários de canto, comprou o primeiro casal ao senhor Luís, por uma quantia de 25 pesetas, tratava-se de um excelente casal de cantores. Seu passatempo foi crescendo até chegar a guerra, tempo este em que faltava tudo, não havia alpista para lhes dar, ainda tentou alimentá-los com peles de batatas cozidas e outras coisas mais, assim os manteve alguns meses, mas foram morrendo porque não era o alimento adequado, optou por oferecê-los a um amigo, já que teve que mudar-se para outro lado por causa dos constantes bombardeamento que se faziam sofrer na zona onde vivia.
          No final da guerra as coisas foram-se normalizando, cumprindo o serviço militar em Alcalá de Henares, visitou o aviário de uma sua cliente ( foi cabeleireiro de senhoras) e ficou encantado com as cores dos canários que viu no seu   vasto aviário. Sabendo que este senhor era muito aficionado à caça propôs-lhe a troca de um perdigão (macho de perdiz) que tinha trazido da sua terra , por um casal de canários dos mais bonitos, o homem aceitou e fizeram a troca, que ilusão ter uns pássaros tão preciosos, mas quando foi para trocarem  os pássaros a decepção foi grande, porque lhe entregaram uns pássaros  verdes, o macho com poupa, nada vistosos, em comparação com os que tinha visto. Ao fim de um mês de tê-los em casa, numa manhã despertou com o som que logo identificou como um timbrado, daí nasceu sua “aficion” e sua devoção pelo pássaro de canto Timbrado Espanhol.
 Como ele mesmo diz, desde esse tempo tentou conseguir os melhores exemplares, em função das possibilidades do momento, naquela época a alimentação era todavia escassa, administrava-se uma dieta à base de alpista, com um pouco de cânhamo, na criação dava-se ovo cozido com pão ralado, conseguindo mesmo assim  uma criação muito aceitável, era muito raro os pássaros adoecerem ou morrerem por doenças estranhas. Sua “afición” aumentou dia a dia, um representante que lhe oferecia produtos para o salão de cabeleireiro, pedia-lhe cada vez que o visitava, para sacar os pássaros para que os pudesse ouvir, então pensou que podia ter bons pássaros timbrados. Participou num concurso aberto em que se permitia participar sem anilhas conseguindo um primeiro prémio , consistia, como ele diz, numa tacinha pequena que parecia um !lava olhos” , todavia a conserva com muito carinho. Isto o animou a fazer-se sócio da FOE (Federação Ornitológica Espanhola) para obter anilhas e participar no Campeonato do Mundo que se realizou em Valência, passados uns dias recebeu um telefonema para lhe perguntarem se queria que lhe trouxessem os prémios ou ia ele recebê-los, tinha sido Campeão do Mundo. Naquele ano o êxito foi de tal envergadura que conseguiu ser Campeão Nacional. Campeão Hispano-Latino-Amaricano e Campeão do Mundo.
 Aquilo mudou o seu modo de trabalhar com os pássaros, por todos os meios conseguiu estabelecer contacto com os criadores da vanguarda naquela época, na entrevista que lhe fizemos, recordou as pessoas que o ajudaram a ter fama dentro do Timbrado, mencionando nomes como, D. António Drover Aza, D.Ramón Gamboa del Colégio del Pilar, D. Mariano de la Mata, D. Roberto Sáez Villaescusa, D.Antonio Martín Macera, D. Luís Jurado Machuca e o senhor Molla, que lhe chamavam o “ti Tremeliques” porque tinha uma doença que lhe fazia tremer as mãos. A qualidade de seus pássaros aumentou consideravelmente, começaram-lhe a pedir exemplares seus, desde toda a Espanha e alguns países da América.
Começou a actividade de introduzir o Timbrado Espanhol em diferentes países, Venezuela, Colômbia, Porto Rico e Estados Unidos da América. Aproveitou sua assistência como juiz para difundir com grande tenacidade a criação do Timbrado conseguindo arranjar grandes amizades, que com orgulho manifesta e que ainda as conserva. Das suas maiores satisfações recorda um determinado dia, em que  a Casa Real lhe comunicou que Sua Majestade a Rainha Dona Sofia o queria receber no Palácio, com algum nervosismo acedeu ao pedido da Rainha e viu que Dona Sofia era amante de tudo o que fosse natureza, falaram da criação em cativeiro do canário Timbrado e inclusive sua Majestade aceitou-lhe  um Timbrado  que por sinal foi um campeão de grande categoria, qualificou a entrevista com a Rainha de cordial e afectuosa, desta forma satisfez a curiosidade da rainha sobre os canários. Desde então tem mantido uma discreta atenção por parte da Casa Real.
 Dentro das suas colaborações, sempre em busca do seu querido Timbrado Espanhol, destaca a realização com a casa Philips a gravação de distintas cassetes de campeões por ele conseguidos, este foi um grande êxito, já que em muitas bombas de gasolina estavam expostas as cassetes do Timbrado Espanhol, campeões em distintos lugares.
 A seguir foi solicitada sua experiência na gravação de discos e vídeos produzidos por Alfonso Cupido e juízes de Timbrado, como Tomas Valenzuela, Francisco Nicolás, Tasio Garcia, Alberto Berrio  ou Paço Gómez. Com este grupo de amigos conseguiu fazer umas gravações separando nota por nota do que o canário emitia, sendo um grande êxito pata a divulgação do Timbrado.
  Nesta entrevista manifestou que gostaria muito antes de morrer, que por regra natural da vida já lhe resta pouco tempo, que as diferenças que existem no Timbrado se possam limar e chegar à conclusão que todas as tendências são boas, se essas intenções forem boas.
   A Redacção desta reportagem teve nestas poucas palavras a atitude correcta em reflectir a grandeza desta pessoa, que com a sua humildade e perseverança, nos acompanhou sempre com grande simpatia, tem sido e é para a Espanha Ornitológica o Embaixador do Timbrado Espanhol, titulo que lhe foi concedido em 1995, onde lhe foi entregue um quadro a óleo representando a  sua imagem e com uma  inscrição, onde se pode ler:

  “A DON ÁLVARO GUILLÉN, EMBAJADOR DEL TIMBRADO ESPAÑOL EL GRAN TENOR”



VIVA O CANÁRIO DE CANTO TIMBRADO ESPANHOL

Tradução: Diogo Santana
Texto: Tomás Valenzuela
Entrevista: Fernando Carnicero

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